Muitos colegas comunicadores sempre me disseram que, em um futuro breve, logo ali, as máquinas dominarão o mundo e roubarão muitos dos empregos formais que conhecemos. Não duvido disso. Há estudos, algoritmos, dados que comprovam essa tendência.

Basta ver o tanto de processos automatizados que a pandemia fez com quem a maioria das organizações desengavetassem, acelerando de vez a tão chamada transformação digital. Mas por trás de toda essa tecnologia, continuam (assim seja!) as pessoas. E me arrisco a dizer que:

 

  1. isso nunca será substituído;
  2. compreender o jeito de ser, pensar e agir de cada uma delas tornou-se diferencial competitivo quando pensamos em marcas empregadoras e equipes de alta performance em tempos de maior distanciamento social.

 

A base de qualquer negócio é (e sempre será) o comportamento humano, seja do consumidor, do colaborador, do fornecedor, da comunidade do entorno, das entidades de pressão, do governo e órgãos regulatórios. Enfim, seja qual for o stakeholder que estivermos abordando em um planejamento de comunicação integrada.

Pare e reflita: em um processo de onboarding ou imersão, hoje, além de todo o arcabouço tecnológico que sua empresa já oferta ao novo profissional que chega para fazer parte do time (as múltiplas plataformas de aprendizagens, validação de conteúdos e compartilhamento de boas práticas), o quanto de fato ela tem se preocupado em criar um espaço de fala ativa para esse novo integrante se sentir em casa?

O quanto ele está sendo convidado, por exemplo, a abrir a câmera de seu notebook e mostrar, em poucos minutos, a realidade do seu lar, o que o inspira e o comove na vida, seus anseios, medos, desejos, sua família, a realidade de onde veio etc.?

E mais: o quanto ele pode compartilhar isso em um ambiente extremamente diverso e inclusivo, que permita ao mesmo desenvolver ao máximo suas potencialidades e enxergar futuro na trilha que pretende construir junto à sua marca?

 

É essa Comunicação Human to Human sobe a qual estou falando aqui. E ela vai muito além do storytelling ou do audiovisual bonitinho de sua comunicação corporativa nos dias atuais.

 

Ela começa por entender a fundo as raízes e pontos de conexão de seu colaborador com o ambiente organizacional em que ele irá se hospedar. Sim, hospedar aqui é empregado de propósito, pois teremos cada vez mais a sensação de que o funcionário “está” pertencente àquela organização, num dado momento, mas que amanhã tudo pode mudar e ele não estar mais assim tão aí pra ela. Lembra-se do que a pandemia nos causou recentemente?

Então, pense a respeito das relações duradouras (ou não) que sua organização estrategicamente deseja construir e lembre-se que não é um simples welcome kit, bem feitinho e entregue na casa dele, com crachá, caderno, squeeze e mouse pad que irá fazê-lo se conectar emocionalmente de fato a ela. É preciso haver sentimento de legado, propósito. E isso só coexiste quando temos rodas autênticas de conversa, como aquelas que temos com nossos melhores confidentes, familiares e amigos.

 

“Let it be”

 

Assim, em um mundo cada vez mais tecnológico, recheado de novas ferramentas que são lançadas todos os dias e interações pessoais cada vez menores, a necessidade de humanizar o processo entre as empresas e o empregado cresceu demasiadamente. E também entenda: não é conferindo mais tarefas e deveres a esse novo funcionário que você obterá indicadores de engajamento amplamente mais satisfatórios. Isso funciona até a página dois. Mas quando ele não vê sentido, logo se desconecta. Quanto comitês de comunicação interna naufragaram nesse sentido, hein?

Parafraseando os Beattles, “let it be”. Nunca tal verso de canção ou de quadrinho pendurado na parede do quarto fez tanto sentido quando agora. Muitos cometem o grande erro de tomar decisões basicamente olhando relatórios, números, mas o diferencial está em ir para a linha de frente, ouvir e se relacionar com esse público. Relacione-se de verdade! Aqui vai minha outra dica.

 

Deixe ser, Deixe estar, Deixe fluir

 

Faça sua liderança compreender que esse relacionamento pode ser construído em momentos que não apenas aqueles para falar das questões de trabalho. Invista em diversidade e inclusão, busque encontrar pontos de fala convergentes que podem gerar diálogos impensáveis entre você e seu time, sobre coisas da vida, sobre tudo aquilo que seus empregados desejam falar. Afinal, “deixe ser”, “deixe estar”, “deixe fluir”.

Claro, não abra mão de pesquisas, diagnósticos e mensurações para calibragem de rotas. Mas tente uma abordagem com a humanização sempre ao lado. O tradicional diálogo entre o quanti e o quali. Isso ajuda muito. E por fim, e não menos importante, seja crível em suas ações e atitudes pensadas para a área de Comunicação. Garanta o lastro em tudo aquilo que a organização empreende e o conecte com a estratégia do negócio, pois ao final do dia estamos falando de resultados, de transformações pretendidas e de aumentar o valor agregado, correto? É isso que seu head de área também vai lhe cobrar ao final.