Fonte: Folha de S.Paulo

Há alguns anos, bem antes da discussão sobre os impactos da mídia digital chegar aos ouvidos da grande maioria, os profissionais da comunicação já viviam o assunto como um aviso de terremoto.  Uns falavam no fim do jornalismo, da mídia impressa, outros no fim dos direitos autorais. A impressão que se tinha era que todos foram avisados sobre a chegada de um grande abalo sísmico que nos tiraria o chão e provocaria um tsunami que engoliria a todos. Felizmente, a mídia digital não é uma onda devastadora, mas tem se locomovido rapidamente por caminhos subterrâneos, provocando mudanças significativas e exigindo adaptações por parte de todos.

Aqui é ainda mais dificil para algumas empresas perceberem esses impactos. Para começar, o Brasil, como todos os emergentes por estar em um patamar diferente de desenvolvimento, apresenta um cenário que difere do resto do mundo. O Brasil cresce mais do outros países também na indústria de mídia e entretenimento. A previsão de crescimento é de 8,7% no Brasil até 2014, enquanto em termos globais será de 5%. Os dados estão em um relatório divulgado hoje pela consultoria PricewaterhouseCoopers, dado com exclusividade pela Folha de S.Paulo.

Além disso, ainda hoje a maior parte da receita ainda provém de investimentos dos anunciantes em mídia off-line. Mas o estudo de 600 páginas aponta também que as tecnologias digitais vão aumentar sua influência em toda a indústria de mídia. Parece que algumas placas tectônicas estão entrando no eixo, por que todos estão percebendo que a mídia digital não é um competidor dos serviços analógicos, mas algo complementar.  Na maioria dos países desenvolvidos, os leitores de mídia off-line são também os grandes consumidores de informação online.

As ondas subterraneas, embora não percebida por todos, já são amplamente sentidas pelos profissionais de comunicação. A preocupação nos países desenvolvidos não é a Internet, mas o fato dos jovens não lerem notícias em nenhuma plataforma.

Por aqui a realidade é outra. O mundo encolhe e o BRIC expande. A lógica se aplica também para o número de títulos e circulação de jornais impressos. Segundo relatório da OCDE, enquanto nos países desenvolvidos a circulação de jornais impressos está em queda, nos emergentes subiu 35% entre 2000 e 2008. É a inclusão de uma fatia cada maior de pessoas que até pouco tempo viviam a margem do mercado de consumo. Essas peculiaridades levaram os jornais brasileiros a reformulações como os recentes projetos editoriais e gráficos anunciados pela Folha e pelo Estadão. Foram privilegiados textos mais concisos, imagens, infográficos, vídeos, áudios, e maior interação do conteúdo impresso com o online. É o início de uma longa mudança que assistimos na forma de produzir e consumir informação e entretenimento. Não vai ficar pedra sobre pedra.