O caso da morte brutal de João Alberto Silveira Freitas ganhou grande repercussão na mídia, gerou diversos protestos e mobilizou entidades e empresas que se posicionaram no combate ao racismo estrutural. O clima geral do grande público é de indignação e revolta com o grau de violência das cenas captadas por celular, reproduzidas nos telejornais e compartilhada milhões de vezes na rede.

 

O caso foi classificado pela ONU como “um ato que evidencia as diversas dimensões do racismo e as desigualdades encontradas na estrutura social brasileira”, que registra hoje a cada 23 minutos o assassinado de um jovem negro no Brasil.

Diversas entidades se manifestaram a favor do combate ao racismo estrutural do Brasil. A agência da ONU para Direitos Humanos apontou que as autoridades precisam reconhecer o problema da discriminação como “primeiro passo” para lidar com a realidade, e ainda pediu uma investigação independente e reformas urgentes.

 

Marcas assinam manifesto

 

Foi exatamente isso que um grupo de grandes empresas fez ao divulgar um manifesto assinado por marcas como BRF, Coca-Cola, Danone, General Mills, Heineken, Kellogg’s, L’Oreal, Mars, Mondelez, Nestlé e Pepsico. Diz o documento que

 

“o primeiro passo é assumirmos a realidade do racismo e admitirmos que ainda ocorrem diariamente atitudes que perpetuam o preconceito, a exclusão, as desigualdades e a violência. E, por isso, precisamos fazer mais”.

 

E completa,

 

“juntos, somamos quase 235 mil colaboradores no Brasil. Acreditamos que devemos ser agentes de transformação e evoluir coletivamente na jornada que iniciamos individualmente, em cada uma de nossas companhias, na luta pela equidade racial”.

 

Assumir o Racismo Estrutural é o primeiro passo

 

Assumir o racismo estrutural é, realmente, o primeiro passo para combater a formalização de um conjunto de práticas institucionais, históricas, culturais e interpessoais dentro de uma sociedade que frequentemente coloca um grupo social ou étnico em uma posição melhor para ter sucesso e, ao mesmo tempo, prejudica outros de modo consistente e constante, causando disparidades que se desenvolvem entre os grupos ao longo de um período de tempo. No Brasil, por exemplo, enquanto a maior parte dos habitantes é negra (54%), quase todos (96%) dos parlamentares são brancos.

 

Imagem e Reputação Abaladas

 

Apesar de assumir que o fato ocorrido é fruto do racismo estrutural ao qual o Carrefour promete combater, de adotar rápida resposta e ter seguido convencionais protocolos de gestão de crise, que incluiu colocar seu presidente e diretor de RH para se desculparem publicamente pelo ocorrido, a empresa a imagem do Carrefour está sendo altamente impactada.

Como não podia ser diferente, as contínuas repercussões e desdobramentos, ao alto grau de interesse midiático, em um ambiente de incertezas, mantém a reputação da marca em risco, assim como o próprio negócio. Principalmente pelo fato de a empresa ser reincidente em casos de violência contra negros e ter um histórico anterior de problemas envolvendo seus terceirizados de segurança.

A confiança na marca está ameaçada. Em apenas um dia, o Carrefour teve queda do valor das ações perdendo R$ 2,16 bi em valor de mercado apenas no pregão de 23 de novembro. Os papéis da empresa caíram 5,3% no primeiro dia de negociações após a propagação dos protestos contra a marca em reação à morte de João Alberto Silveira Freitas.

 

O desafio das marcas é ir além de ações pontuais

 

Parte do risco é fruto exatamente do racismo estrutural vigente no país, onde parte da sociedade e até de lideranças nem reconhecem o ocorrido ato de violência como de racismo.

O desafio agora é ir além das ações pontuais.  E estabelecer uma estratégia de médio e longo de branding e reputação, que não se restrinja apenas a narrativa da marca para sair da crise, mas que efetivamente perpasse a própria estratégia de negócios da companhia, tornando sua narrativa extremamente legítima e crível.