Pautas que são relevantes para o desenvolvimento social, como inclusão de minorias, respeito à diversidade sexual, ética nos negócios, compromisso com a preservação ambiental e uso racional dos recursos naturais, já estão incorporadas às culturas e práticas organizacionais de muitas empresas.

As discussões mais recentes sobre a importância de avaliar as práticas de ESG – Environmental, Social and Governance nas empresas como critério de investimento, por exemplo, representam mais um capítulo na evolução do posicionamento e desempenho social das organizações.

Cabe às empresas o papel de contribuir para o debate político?

Como qualquer organismo social, as empresas são influenciadas por dinâmicas sociais externas a elas, ao mesmo tempo em que possuem um potencial de transformar o seu entorno. E é, exatamente, sobre essa complexa relação entre empresas e sociedade que queremos refletir a partir de novos desafios que surgem.

Cabe às empresas o papel de contribuir para o debate político, em tempos de polarização e disseminação de discursos de ódios e fake news nas redes sociais?

Até que ponto esses assuntos podem interferir no dia a dia das empresas e contaminar o clima organizacional, a produtividade e a comunicação com seus públicos?

Comunicação e Democracia

Começamos nossa reflexão, resgatando o papel social das empresas que foi sendo construído ao longo do tempo para atender às demandas e pautas da sociedade. E essa escolha teve um motivo: apontar para uma nova necessidade ou possibilidade de transformação que pode ser impulsionada pelas empresas.

Precisamos, urgentemente, melhorar a qualidade dos debates públicos e democratizar o acesso às informações. Estimular a pluralidade de opiniões e combater as ideias extremistas, fundamentadas em negacionismos, distorções históricas e informações falsas, que comprometem a harmonia e o desenvolvimento social.

Nós, profissionais de comunicação corporativa, temos de estar atentos a esse cenário e buscar maneiras mais assertivas para estimular debates construtivos, saudáveis e que tragam benefícios para todos.

Acolhimento e Escuta Ativa

Investir em ações de acolhimento, escuta ativa, comunicação não-violenta e monitoramento são algumas práticas que podemos adotar em nossas organizações para identificar possíveis problemas e fomentar uma cultura mais diversa e democrática dentro das empresas.

Mas se você está se perguntando, agora, se as empresas ou seus principais líderes devem se manifestar sobre posicionamentos políticos do ponto de vista partidário, governamental, ou, ainda, se os canais de comunicação devem comentar decisões ou fato políticos externos?

A resposta mais indicada por quem estuda e acompanha o assunto é NÃO! Há muitos riscos envolvidos quando a empresa ou seu principal líder se posiciona com opiniões ou por objetivos pessoais que não se conectam com seus negócios. Na maioria das vezes, esse tipo de posicionamento pode causar prejuízos de imagem e reputação.

Não se trata, portanto, de escolher entre influenciar o debate público como Luciano Hang das lojas Havan ou Luiza Trajano e sua Magazine Luiza. De ficar na berlinda, na vitrine ou adotar um posicionamento neutro que não comprometa a sua marca.

Quem pode nos dar uma resposta a esse dilema é o diretor da Aberje e doutorando em filosofia da USP, Hamilton dos Santos. Para ele, as empresas devem abordar a política por seus princípios, como a democracia, visando fortalecê-la.

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“Em uma sociedade saudável, costuma-se ter um equilíbrio entre os negócios, o governo (quando é forte e bem conduzido) e a sociedade civil, formada por sindicatos, associações e instituições que dão voz às pessoas comuns. O que temos visto com essa transformação da comunicação digital gerada pelas redes sociais é justamente o rompimento do equilíbrio entre esses pilares. A sociedade está mais fragmentada, os governos se degradaram muito, por isso, os negócios se tornaram uma voz cada vez mais forte e influente nesse tabuleiro”, argumenta.

Se as organizações podem contribuir para fortalecer a democracia e fomentar a pluralidade de opiniões e pensamento crítico, vamos refletir sobre como a comunicação pode influenciar esse debate de forma saudável e ajudar as organizações a desempenharem um papel social relevante?

Dica Bônus 😉

No blog Democracia e Comunicação criado pela Aberje, em parceria com a Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAPP) da FGV, há mais reflexões sobre democracia, comunicação e o papel social das empresas. Recomendamos, também, o podcast FalAção, episódio 60 – Responsabilidade Empresarial e Democracia, com Yacoff Sarkovas, executivo e empreendedor em comunicação e membro do Conselho para aprofundar sobre o tema.