O estudo global Edelman Trust Barometer, divulgado em abril de 2020, revelou que 86% das pessoas entrevistadas no Brasil demonstraram preocupação com a perda de seus empregos com base em diversas razões, como falta de qualificação e competência, recessão iminente e economia baseada em mão de obra freelancer.

Segundo o atual estudo, divulgado em maio, saúde e segurança são primordiais e passaram à frente do emprego. O relatório revelou que mais de dois terços dos respondentes (67%) esperam que salvar vidas seja priorizado em relação a salvar empregos, e 75% esperam que os CEOs sejam cautelosos ao fazer suas empresas voltarem ao normal, mesmo que isso signifique esperar mais para reabrir escritórios.

Além de atuar de forma responsável com relação às novas exigências de saúde e segurança impostas pela pandemia, empresas que pretendem contar com equipes comprometidas e engajadas com suas atividades nesse momento de distanciamento devem dedicar-se a promover ações que ressaltem seus atributos positivos junto a seus funcionários para não deixarem que o distanciamento acabe por abalar a confiança deles, tornando-os, até, influenciadores internos digitais.

Sobre esse desafio, conversamos com Bell Gama, sócia-fundadora da Air Employee Experience, consultoria que há cinco anos atua na área de Employer Branding, ou marca empregadora, na tradução para o Português. E também trazemos aqui as reflexões da professora e pesquisadora Carolina Terra sobre os Influenciadores Internos Digitais e como eles podem ajudar nesse processo.

 

“Serei a próxima pessoa a ser demitida”?

 

Bell reconhece que o espaço imposto pela distância social acaba sendo ocupado por sensações de medo e insegurança por parte dos funcionários.

Além disso, as sucessivas notícias de demissões em massa provocadas pela crise também acabaram por influenciar essa preocupação. “O que vimos nos primeiros meses foram redes sociais como o LinkedIn sendo muito utilizadas para anúncios oficiais de demissões e até mesmo colaboradores se despedindo ou lamentando a perda do emprego na rede. Acredito que esse movimento também fez com que as pessoas ficassem mais preocupadas e se perguntassem: serei a próxima?”.

 

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Bell Gama, da Air Employee Experience: é preciso pensar em novos formatos para manter as equipes engajadas e comprometidas com as empresas

 

Para Bell Gama, as empresas que não adotavam o home office e a flexibilidade no trabalho tiveram que desenvolver planos muito rápidos para se adaptar à pandemia. “Com isso, todos os rituais de engajamento entre os colaboradores foram abalados”, comenta.

 

Estar longe do dia a dia corporativo está exigindo das empresas a redefinição de seus rituais de comunicação e reforço da cultura organizacional. Por outro lado, empresas que já tinham a cultura de flexibilidade muito estabelecida e que não sofreram impacto financeiro na crise conseguiram manter seus colaboradores produtivos e despreocupados.

 

 

 

 

 

 

A importância do Líder Comunicador

 

A comunicação com os funcionários ganhou status de importância estratégica para as empresas e suas equipes. “Tão importante quanto fornecer o ferramental técnico como computador, acesso a internet, telefone e cadeiras para as pessoas que tiveram que adaptar o escritório em casa é fazer a manutenção dos rituais de comunicação”, ressalta Bell Gama.

Sobre esse desafio, a consultora comenta que é preciso mudar a forma como as reuniões, antes presenciais, devem ser realizadas com o auxílio da internet para que não se transformem em conferências por vídeos, nas quais os funcionários se transformem em meros espectadores. “Acredito que o esforço agora deve ser em transformar os líderes em facilitadores virtuais que consigam realizar não apenas um repasse de informações, mas também interagir com o time, promover a troca de ideias, estimular a produtividade e a cocriação”.

 

Cafezinho Virtual

 

O que poderá ocupar o lugar do encontro no cafezinho para um bate-papo amistoso e apaziguamento de incertezas entre colegas e entre líderes e suas equipes?

Qual será o novo espaço para essa conversa? Como se dará a comunicação corporativa nesses novos tempos de distanciamento social? Se antes a empresa cascateava as informações por meio de comunicação visual, qual será o novo canal?

São questões que precisam ser urgentemente tratadas pelas empresas que almejam manter vivos seus atributos de marca empregadora junto a suas equipes.  Portanto, a pergunta mais importante agora, segundo Bell, é: como garantir o mesmo engajamento, ou mesmo aumentá-lo nesse momento em que o escritório não representa mais o porto-seguro e o ponto de encontro?

São muitos os desafios e é preciso que a empresa tome a decisão de implantar um programa que dê conta de endereçar esses questionamentos de forma estratégica e contínua. Mas para não deixar a pergunta totalmente no ar, nossa entrevistada dá uma dica simples aos gestores de Recursos Humanos e Comunicação: “abram a cabeça para ideias diferentes. É tempo de ouvir os colaboradores. Muitas vezes a solução mora na simplicidade e na empatia de se colocar no lugar do colaborador”, pontua.

 

Influenciadores Internos: ganho para os dois lados

 

Em recente artigo publicado no site Proxxima, do grupo Meio e Mensagem, a pesquisadora Carolina Terra, junto a outro especialista no tema, João Francisco Raposo, tratam sobre a importância das empresas atentarem para o empoderamento dos funcionários, capazes de influenciar – de maneira positiva ou negativa – não só os públicos de uma organização, mas a sociedade como um todo,  em função de estarem hiper conectados e munidos de fácil acesso ao digital.

Segundo os autores, se estratégias de employer branding podem dar à marca a reputação de boa empregadora, por outro lado, crises de imagem ou reputação podem ser geradas hoje por colaboradores insatisfeitos ou mal preparados, afetando a marca como um todo. “Um colaborador é atualmente um potencial produtor de informações acerca das organizações e deve ser estimulado e incentivado além da política de salários, sendo também preparado adequadamente sobre limites, fronteiras e como pode ser a linha de frente da influência de uma organização, marca, produto ou serviço na rede”.

 

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Carolina Terra: a Comunicação Interna deve orientar e treinar o corpo de empregados sobre boas práticas, normas e diretrizes de conduta nas ambiências digitais

 

Um dos grandes desafios da comunicação interna é estar preparada para a perda de controle do discurso organizacional, dizem os autores.  Em tempos de hiperconexão e de “usuários-mídia”, colaboradores plugados na rede e com poder de expressão podem (e devem) ser potenciais fontes de buzz para os conteúdos de interesse da organização.

 

Porém, é necessário um trabalho focado para estimulá-los a postar conteúdos de relevância para as audiências ao mesmo tempo em que ajudam na construção da imagem e da reputação de seus locais de trabalho, colaborando, assim, ao esforço de programas de employer branding das empresas.