O feedback é parte fundamental do processo que orienta as pessoas a apresentarem comportamento e desempenho apropriados no ambiente de trabalho. Em tempos de pandemia, com os colaboradores trabalhando de suas casas, como fica essa questão?

 

Com a pandemia e o distanciamento social, muitas empresas tiveram que mudar a modalidade de trabalho para home office da noite para o dia. De acordo com uma pesquisa da ISE Business School, realizada com 518 executivos:

 

  • 51% das empresas não possuíam práticas de trabalho à distância antes da disseminação do novo Coronavírus;
  • e agora, mais de 62% das instituições têm colaboradores operando em casa.

 

Diante deste cenário, a pergunta que fica é: será que os líderes estão preparados para dar feedbacks às suas equipes, mesmo de longe? Para Alessandra Sperandio, gerente de Recursos Humanos da Univar Solutions, cliente do Grupo Trama Reputale no núcleo de Comunicação Interna, a vida das pessoas mudou.

 

Cada um está passando por esse processo de mudança com medos, angústias e necessidades diferentes. Isso exige da liderança habilidades que antes não eram tão necessárias. É preciso compreender um pouco mais a fundo a dinâmica da família do colaborador. Papéis tradicionalmente ocupados no eixo familiar se quebraram e exigiram de todos novos comportamentos. Não dá para assumir que o líder conhece os pontos principais de dificuldade e facilidade como ele conhecia, pois existem novos elementos presentes e que precisam ser olhados, que impactam diretamente, comenta Alessandra.

 

A Metodologia SCI pode te ajudar nesse desafio

 

Dar feedback é talvez um dos principais papéis da liderança quando falamos de desenvolvimento de pessoas. É um momento de aprendizado, de ajustar a rota, de permitir uma oportunidade para que o colaborador seja capaz de ampliar sua capacidade de percepção de impacto e dar a ele a opção de escolha de fazer diferente, de se adaptar e de aprender.

Por isso, é necessário ser específico ao dar um feedback, minimizar o julgamento e a opinião. Basear-se na situação, no comportamento apresentado e qual impacto esse comportamento gerou.

É possível utilizar a metodologia SCI – Situação, Comportamento e Impacto, desenvolvida pelo Center for Creative Leadership (CCL) para construir esse feedback:

 

Situação: seja específico sobre o que ocorreu, descreva a situação: Na reunião de ontem à tarde com todo o time sobre apresentação dos resultados do mês, você…”

Comportamento: qual foi o comportamento positivo ou que foi identificado como oportunidade de desenvolvimento diante desta situação específica? Por exemplo: Percebi que no momento em que seu colega apresentou alguns indicadores que estão sob sua responsabilidade e que impactaram para um resultado ruim desse mês, você respondeu, aumentou seu tom de voz e ficou vermelho. O que foi que aconteceu?

Impacto: qual foi o impacto deste comportamento na situação final ou com as pessoas que presenciaram? Como: Eu fiquei constrangido e me senti agredido com seu tom de voz. Notei bastante desconforto com os demais presentes na reunião, inclusive, percebi que algumas pessoas que poderiam contribuir se calaram. É importante estabelecermos que essas reuniões têm como objetivo entendermos os impactos positivos e negativos dos resultados para que juntos possamos buscar soluções. Para isso, conto com você para mantermos esse ambiente de abertura e colaboração. É possível?

 

Essas são perguntas importantes para gerar compreensão e aprendizado no feedback, esse aprendizado está diretamente relacionado com a capacidade de ampliar a percepção do outro sobre o impacto que o comportamento dele causou naquela situação.

 

A Comunicação Interna é outra importante aliada

 

As empresas devem desenhar programas de desenvolvimento de suas lideranças desde o primeiro nível para proporcionar aos seus líderes a oportunidade de aprender, reciclar, desaprender e reaprender. Esse processo de desenvolvimento precisa ser vivo, orgânico e sem fim.

Uma jornada perene e que exige abertura, vontade e entrega de todos para gerar transformação, aprendizado e melhoria no processo de dar e de receber feedback.

Além de engajar todos os líderes a participarem dos programas de liderança com comunicados específicos, a Comunicação Interna pode criar uma página na Intranet em que só eles tenham acesso, na qual sejam postados conteúdos direcionados para ser um bom líder, como estar perto da sua equipe, comunicação não violenta, o que é exercer uma boa liderança, como dar feedbacks construtivos, entre outros assuntos.

Para fazer com que os líderes se comuniquem mais com seus liderados, a empresa pode trabalhar com o cascateamento de informações e pedir para que eles desdobrem conteúdos exclusivos. Isso irá gerar confiança no quadro de gestores.

O distanciamento social exige da liderança atenção e disciplina ainda maior. Com a distância das pessoas, não é possível perceber comportamentos diferentes ou uma mudança importante que o convívio nos permitia capturar.

Com isso, é fundamental que a liderança estabeleça sessões frequentes com cada um de sua equipe e que ela busque entender e se ajustar às diferentes necessidades de manter vivo esse processo de feedback, de acordo com o que faz sentido e é importante para cada um.

 

Comunicação Transparente, Verdadeira e Assertiva

 

Uma comunicação transparente, verdadeira e assertiva aproxima as pessoas. Faz com que elas não tenham medo de expor suas dificuldades, de se mostrarem vulneráveis e de pedir ajuda. Quando se tem conversas verdadeiras, se constrói confiança, e esse é o ponto chave para fortalecer quaisquer relacionamentos. Quanto maior ela for, maior o comprometimento, engajamento e entrega.

 

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Para Alessandra, as pessoas são diferentes, estão trabalhando dentro de suas casas e vivendo contextos diferentes. “É fundamental compreender isso para poder realizar bons momentos de feedbacks à luz de aprendizado, pois se não gera aprendizado, não é feedback.”

Estudos apontaram que, após a crise que estamos passando, os processos de desenvolvimento de pessoas mais humanizados pela liderança e empresas serão mais eficazes, pois colocar as pessoas no centro das organizações tem um impacto positivo tanto para o público interno, quanto para o externo.