Você sabia que mais de 45 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência? Esse número corresponde a 24% da população nacional. E com índices tão expressivos, fica ainda mais evidente a importância de iniciativas e ferramentas que possam promover uma comunicação inclusiva, com mensagens acessíveis e muita diversidade.

 

Todos, cada um e um Brasil único.  É assim que devemos encarar a multiplicidade de mais de 210 milhões de pessoas que compõem o nosso País. É justamente essa diversidade que faz com que cada indivíduo seja único e, ao mesmo tempo, parte de uma só nação.

 

E para o mundo organizacional, não tem sido diferente

 

Existem diversas empresas que possuem a inclusão como um de seus pilares, mas no dia a dia não é isso que se vê. Entre os cases de sucesso do Cannes Lions deste ano, estão alguns trabalhos que promovem uma comunicação inclusiva.

Diversos troféus – incluindo quatro Grand Prix, o prêmio máximo de cada categoria – foram para as mãos de cases que propõem de alguma forma a inclusão aos consumidores e usuários dessas marcas. O tema ganha atenção e é importante que as marcas estejam engajadas nestas causas, se quiserem de fato, pertencer.

Aqui no Brasil podemos mencionar dois casos recentes de peças publicitárias que, de alguma forma, incluem as pessoas com deficiência: o supermercado Extra que, em celebração aos seus 30 anos, lançou um filme publicitário com a janela de LIBRAS, a Linguagem Brasileira de Sinais, e a #PRACEGOVER nas inserções de digital, que propõe a descrever a imagem da peça para os consumidores cegos ou com deficiência visual; e o Burger King, que veiculou o primeiro comercial com audiodescrição aberta na TV.

 

Mas afinal, o que é uma Comunicação Inclusiva?

 

Podemos dizer que uma comunicação é realmente inclusiva, quando:

  • Possibilita que todas as pessoas possam acessá-la e consumi-la;
  • Usa linguagem de amplo entendimento (não excluindo pessoas com baixa escolaridade, ou que não tenham conhecimento de outros idiomas);
  • Usa as terminologias corretamente;
  • Não reproduz estereótipos, mas traz representatividade;
  • Respeita, valoriza e dá voz à pluralidade da população.

 

Para Brenda Lauren Vaz de Lima, psicóloga da ONG Olhos da Alma, instituição que realiza atendimentos para deficientes visuais, a comunicação inclusiva não só é essencial para o pilar de diversidade, como também o sustenta.

“É fato que a diversidade existe, mas há pouco tempo começou a ser valorizada, não só pelo processo de reconhecimento da importância da subjetividade, mas também pela percepção dos bons resultados obtidos ao se falar com todos os públicos”, diz.

 

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Brenda Lauren Vaz de Lima, psicóloga da ONG Olhos da Alma.

 

Brenda explica que a comunicação por si só já é importante para a compreensão de relações, sistemas e métodos. “Quando falamos de comunicação inclusiva, pensando na pessoa com deficiência, é como se essa compreensão fosse o passo anterior a qualquer ação, já que há limitações em determinadas percepções. No geral, vejo que ela proporciona reconhecimento, importância e demonstra que a nossa sociedade é plural, desenvolvida a partir de muitas diferenças.”

 

 

 

 

 

 

A profissional também pontuou a importância dessa ferramenta para uma pessoa com deficiência. “Se a comunicação inclusiva está presente, é bem provável que a sua autoestima e suas possibilidades sejam ampliadas e potencializadas, já que sentir-se parte de um sistema e compreender como ele funciona é o básico para atuar sobre ele.” A psicóloga explica que, na vida pessoal, a pessoa com deficiência consegue sentir-se mais à vontade para conhecer novas redes e vivenciar novas experiências. Já, na vida profissional, sente-se mais amparada e acolhida para realizar o seu trabalho e, consequentemente, mais segura.

 

Como Construir uma Comunicação Inclusiva?

 

Para construir uma comunicação, de fato, mais inclusiva, precisamos nos atentar a três aspectos importantes do conteúdo: canal, mensagem e design.

 

  • Canal: para garantir que todas as pessoas consigam acessar e consumir o conteúdo.
  • Mensagem: para garantir que todas as pessoas compreendam o conteúdo, e que a linguagem seja representativa.
  • Design: para garantir que o conteúdo carregue representatividade, e que o público-alvo se identifique.

 

Trabalhar uma comunicação inclusiva envolve considerar formatos e recursos para que todos possam ter acesso à informação, considerando uma diversidade de pessoas – com e sem deficiência.

Segundo Brenda, pensando na experiência com os deficientes visuais, não é só na descrição de uma imagem nas redes sociais que a comunicação inclusiva surge. É também na narração do ambiente em que ele se encontra, no detalhamento de quem está se comunicando e, principalmente, no cuidado ao compreender que, mesmo as deficiências que apresentem características comuns, possuem suas especificidades.

 

“Na cegueira, por exemplo, pode ser que você tenha que descrever como o dia está para uma pessoa que nunca viu cores. Ou seja, não é tão superficial como dizer que o céu está alaranjado, mas dizer que é um dia que apresenta uma coloração quente.”

 

Para ajudar todos aqueles que buscam elaborar conteúdos, visando inclusão e acessibilidade, preparamos a lista abaixo com algumas dicas.

 

Cinco Dicas Essenciais para promover uma Comunicação Inclusiva

 

1) NADA SOBRE NÓS, SEM NÓS: Envolva as pessoas com deficiência nos debates sobre comunicação – uma comunicação mais acessível parte, primeiramente, do entendimento acerca das demandas das diferentes pessoas. Para isso, nada melhor do que apostar na diversidade.

Diferentes deficiências exigem diferentes medidas para acessibilidade. Na verdade, ainda devem ser considerados os diversos graus de deficiência, cada um com suas particularidades. Isso, claro, sem deixar de lado as preferências individuais.  Por isso, esteja sempre aberto a incluir pessoas com necessidades especiais diversas no planejamento de comunicação para melhor entender cada demanda.

Consuma conteúdos de influenciadores com deficiência e ativistas nas redes sociais. Reflita sobre o que eles pensam e esteja atento ao que tem sido discutido no meio da comunicação inclusiva. Muitos nomes de destaque, inclusive, trabalham como consultores de acessibilidade em comunicação, então aproveite a oportunidade.

 

2) Comunicação inclusiva é anticapacitista: capacitismo é a discriminação, opressão ou abuso da pessoa com deficiência. O termo envolve uma série de situações desde o uso de palavras pejorativas à falta de acessibilidade nos lugares. Além disso, expressões que alguns usam por desinformação ou por considerarem elogios também são consideradas capacitistas. Exemplos comuns são percebidos em frases como: Você é tão linda, nem parece deficiente! Você realmente é um exemplo de superação.

Não é raro, ainda, vermos matérias jornalísticas nas quais as pessoas com deficiência são retratadas como heroínas ou guerreiras quando realizam tarefas do dia a dia ou seus trabalhos. Ou ainda quando são citadas somente em datas comemorativas ou trágicas.

 

3) Use e abuse da descrição de imagens: o Instagram, uma das redes sociais mais populares do mundo, tem como sua principal ferramenta de interação a imagem. Aliás, há algum tempo, especialistas dizem que a imagem é a linguagem da internet, sejam fotos ou vídeos. Algo tão difundido, todavia, pode se tornar uma grande barreira para a inclusão de pessoas cegas.

Se quisermos impactar as mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual espalhadas pelo Brasil, as imagens precisam de descrição. E estamos falando tanto de redes sociais quanto de sites. Na realidade, a descrição de imagens é um recurso importante para os sites. Tão importante que contribui até para posição no Google. E, como qualquer ferramenta, o ideal é obedecer a algumas regras:

  • As palavras devem estar escritas corretamente;
  • Não inicie as descrições com imagem de;
  • Seja sucinto na descrição, exceto no caso de obras de arte;
  • Dispense a descrição de imagens apenas decorativas;
  • O alt text (texto alternativo) não deve ser o mesmo da legenda.

 

4) Não se esqueça das legendas e da LIBRAS: assim como as pessoas com deficiência visual, aquelas com deficiência auditiva também encontram suas próprias barreiras de acessibilidade.

Como mencionamos, a comunicação inclusiva deve levar em conta as especificidades de cada indivíduo. No caso do consumo de vídeos por pessoas com deficiência auditiva, o ideal é usar legendas descritivas ou interpretação em LIBRAS. Sempre que possível, utilize os dois recursos.

Somente desta forma podemos nos certificar de que aquela série, filme ou vlog poderá ser apreciado, inclusive pelos alfabetizados em LIBRAS. Vale lembrar que a audiodescrição em vídeo também é necessária para pessoas que têm deficiência visual.

 

5) Utilize hashtags frequentemente: elas são uma forma de organizar e catalogar conteúdo pelas redes sociais, mas acabaram tomando outro papel também. Com a criação da #PraCegoVer e #PraTodosVerem, as hashtags adquiriram uma função de inclusão.

Hoje, redes como o Facebook, o Instagram e o LinkedIn usam as duas para a descrição de imagens e textos. Além de serem um incentivo para a adoção de uma comunicação inclusiva, todos aqueles que precisam podem encontrar, nas hashtags, conteúdos organizados e que serão descritos.

 

A Comunicação Inclusiva é uma mensagem para todos?

 

Política, moda, esportes, tecnologia, comportamento e negócios. Seja qual for o tema, todos temos direito ao acesso à informação de forma igualitária. Promover uma comunicação inclusiva é também conscientizar sobre diversidade. É ainda garantir lugares de fala e oportunidades para diálogo, com o mesmo objetivo: assegurar que cada mensagem seja entregue a todos.

Estas foram algumas dicas simples e práticas que podem aproximar e engajar seu público, e para além, fomentar a inclusão e acessibilidade na nossa forma de nos comunicarmos. No mais, enquanto pessoas e comunicadores é essencial nos envolvermos ativamente em pautas de diversidade, no intuito de estarmos em permanente processo de aprendizado sobre o outro, exercitando constantemente a empatia e o respeito.