Quando somos crianças, é comum ouvirmos a seguinte questão: O que você quer ser quando crescer?

Ou então, se abusarmos do lado mais lúdico da relação: Quem você gostaria de ser, caso pudesse escolher?

Rodeados o tempo todo por super-heróis, “mocinhos”, “bandidos”, personagens de desenhos animados, filmes e histórias em quadrinhos, todos nós temos com quem nos identificar, em maior ou menor grau, pelos mais variados fatores psicológicos e sociológicos.

Eu, por exemplo, sempre tive grande admiração por vilões, sempre os achei mais sarcástico, bem humorados, criativos e controversos que os “mocinhos”. O Esqueleto, do He-Man, era do dos meus favoritos, confesso!

Agora, pare e pense: o que tais personagens retratam sobre cada um de nós? Quais são as projeções que atribuímos a eles? E mais: o que isso tudo tem a ver com a base do storytelling, a construção da narrativa propriamente dita?

Para exemplificar, gostaria de compartilhar com todos aqui uma palestra, que assisti no TED, proferida por Collin Strokes, o Diretor de Comunicações para a ONG Citizen Schools. Quando o filho dele, de apenas três anos de idade, viu uma cena da “Guerra das Estrelas”, ficou instantaneamente obcecado. Afinal, que mensagens a criança poderia retirar do clássico de ficção científica de George Lucas?

Em sua explanação, Stokes faz uma comparação interessante e única sobre as narrativas de Star Wars e do clássico “O Mágico de Oz” (1939), analisando como cada discurso de personagem fora construído e que valores estavam implícitos nos mesmos.

Diferentemente da Princesa Léa, em “Guerra nas Estrelas”, Dorothy não é uma garota que espera pacientemente por sua salvação e resgate. Pelo contrário: ela é o próprio protagonista da história, à medida que interage, se associa, faz amizades e sabe exercer o papel da liderança para vencer as dificuldades, características bastante admiradas no universo corporativo contemporâneo, diga-se de passagem.

Curioso ainda é pensar que, quando o clássico foi filmado, nos Estados Unidos, muito se discutia sobre a opressão feminina na sociedade, eram tempos inquietos, que incitavam às mulheres a pensar fora da caixa e a ocupar seu papel de direito.

Já se observarmos a Princesa Léa, 40 anos depois, veremos a imagem de uma mulher à espera de sua salvação, pacientemente. Cabendo a ela premiar o “mocinho” com uma medalha por seu resgate após as duras batalhas travadas, nada muito além disso.

Stokes pede, então, mais filmes que enviem mensagens positivas aos rapazes: que a cooperação é heróica e que respeitar as mulheres é tão importante como derrotar o vilão.

O que exemplificamos com tudo isso é que somente o storytelling é capaz de gerar tamanha identificação, podendo transportar as pessoas para mudanças comportamentais, tomada de iniciativas e desenvolvimento de atitudes e habilidades. A comunicação interna deve estar atenta à aplicabilidade dessa importante tecnologia, sabendo tecer narrativas pensadas exclusivamente para uma determinada empresa, organização, ou mesmo, produto. O storytteling ajuda a tangibilizar muito coisa para os colaboradores, pode acreditar!

Vivemos a chamada “Era da Economia de Atenção”, na qual o excesso de informação gera escassez de foco, quase sempre. Dessa forma, é preciso debruçar-se sobre a criação de significados realmente importantes para os públicos de interesse, de modo que as campanhas produzam êxito, criem vínculos, gerem sinergias. A narrativa transmídia ajuda muito nesse sentido. Mas isso é um debate que fica para um outro post, aqui mesmo em nosso blog!

Para encerrar, gostaria de deixar uma frase do célebre J.M. Berrie, autor de Peter Pan, intimamente ligada ao que acabamos de refletir: “Na hora que você duvida da sua capacidade de voar, você acaba para sempre com a possibilidade de fazê-lo”. Então, façamos como a Dorothy e assuamos o protagonismo nessa história. Go storytelling!