Compartilhamos aprendizados colhidos ao longo de cinco anos de escuta ativa, entre 2019 e 2024, com mais de 40 empresas e setores, por meio da nossa metodologia “Radar Employer Branding” – um modelo que conecta diagnóstico, sentimento e estratégia.

Nosso painel trouxe o tema “Fora da empresa, dentro da estratégia: o humano por inteiro”. A escolha foi intencional: defendemos que a Comunicação Interna precisa sair da lógica organizacional e se reconectar com o ser humano em sua totalidade: com suas dores, sonhos e prioridades que não cabem em um crachá.

Mais que dados, vínculos reais

Ao criarmos a Radar, buscávamos entender o que de fato mobiliza as pessoas. Após ouvir mais de 34 mil colaboradores com rigor estatístico e escuta empática, reforçamos algo que pesquisas como o State of the Global Workplace (Gallup, 2023) também mostram: o engajamento nasce da escuta e da conexão genuína.

Descobrimos, por exemplo, jovens profissionais que valorizam saúde mental, tempo com a família e experiências significativas. E que, mesmo vivendo em redes sociais, ainda confiam mais na liderança direta e nos canais institucionais para se orientar no dia a dia. Dado que reforça o papel da liderança como elo de credibilidade, como aponta também a pesquisa “Tendências de Comunicação Interna” da Aberje (2024).

O que mais surpreendeu nesses anos?

A fusão entre lazer e informação. Os colaboradores esperam encontrar os conteúdos da empresa nos mesmos ambientes onde relaxam — como WhatsApp, Instagram e plataformas de streaming. Isso transforma a lógica da comunicação organizacional: o colaborador quer ser informado enquanto consome conteúdo no cotidiano.

Mas aí surge o dilema: os canais mais acessíveis nem sempre são os mais confiáveis. E os mais confiáveis, como os líderes diretos, nem sempre chegam primeiro. Essa tensão revela a urgência de rever formatos, autores e o timing da comunicação interna.

Antes de trocar o canal, precisamos ouvir melhor

Uma provocação importante: será que o problema está nos canais, ou na ausência de escuta verdadeira? Muitas organizações ainda enfrentam dores humanas: excesso de boletins, linguagem fria, baixa presença, liderança despreparada para comunicar.

E ao mesmo tempo, identificamos desejos claros: por clareza, reconhecimento, pertencimento. Ou seja, o colaborador quer mais do que receber informação — ele quer fazer parte dela.

Como aplicar o “humano por inteiro” na prática?

O primeiro passo é romper com a segmentação clássica por área ou nível hierárquico. Nossa proposta é cruzar hábitos de mídia, interesses e sentimentos — criando perfis mais humanizados e próximos da realidade de cada grupo.

O segundo é abandonar o modelo de “broadcast”. O Radar transforma escuta em indicadores e leva esses dados à liderança, para que ela tenha repertório para agir.

Depois, é preciso reduzir o excesso de canais não integrados. Com base em dados de consumo e confiança, redesenhamos os fluxos: mais WhatsApp para quem está no campo, menos ruído na intranet corporativa.

Por fim, capacitamos a liderança. Com os temas que realmente engajam — saúde, propósito, família — criamos “kits de bolso” para ajudar o líder a se comunicar com mais clareza e empatia.

O impacto no engajamento é real

Ao traduzir propósito em códigos afetivos, transformamos segurança em “voltar para casa em paz”. Sustentabilidade vira “cuidar do futuro dos meus filhos”. E a comunicação ganha valor quando toca em algo pessoal.

Essa curadoria conectada ao feed do colaborador — com temas como turismo, saúde e tecnologia — aumenta o engajamento. Em alguns clientes, vimos crescer em 30% os posts espontâneos no LinkedIn.

Como mostra a McKinsey (2022), empresas que constroem escuta real têm 5x mais chance de reter talentos e liderar em inovação. E isso tem tudo a ver com o que temos vivido com o Radar.

Comunicar é construir confiança

O maior aprendizado desses cinco anos é simples: comunicação interna só cumpre seu papel quando gera confiança. E confiança nasce de vínculo, escuta e presença.

Os números comprovam: empresas que aplicaram o Radar viram aumentar em até 50% o engajamento em pesquisas pulse, 80% de retenção nos conteúdos mais sensíveis, e 30% dos colaboradores passaram a cocriar as pautas internas.

O humano no centro da estratégia

Na Trama, temos trabalhado justamente com essa missão: ajudar empresas a colocarem o humano no centro da comunicação. Integrando o digital, o interno e o institucional com ética, consistência e sensibilidade.

Menos sobre ferramenta, mais sobre cultura. Menos sobre envios, mais sobre relações. Escutar melhor é o que transforma a comunicação. E é isso que transforma as organizações.

E a inteligência artificial?

A IA pode ajudar a tornar a comunicação interna mais ágil e personalizada. Mas, ela não substitui a escuta verdadeira, nem cria vínculos afetivos; o que nossa pesquisa mostra como essencial para criar uma cultura de confiança.

Automatizar sem propósito pode gerar ruído, desumanizar a linguagem e saturar os canais, criando um ambiente com excesso de informação, mas sem significado.

Empresas que adotam IA sem critério correm o risco de desacreditar sua comunicação interna, tornando-a apenas mais um barulho na rotina já ruidosa das pessoas.

Deixo aqui, para quem nos acompanhou no Seminário, e para quem nos lê agora, um convite: antes de pensar no próximo canal, que tal perguntar se estamos ouvindo de verdade?

É isso que transforma a comunicação. E, mais do que isso, transforma as organizações.

Acesse a apresentação na íntegra aqui.