O estímulo à cultura da inovação…e a forma brasileira de administrar

Artigo – Por  Leila Gasparindo

 

Apesar do ímpeto do empreendedor brasileiro, segundo pesquisas recentes, o País ainda está distante de contar com uma boa performance na área de inovação. A novidade é que os últimos estudos globais apontam para a importância do estímulo à cultura de inovação, sendo possível realizar uma reflexão de quais seriam os desafios brasileiros nesse sentido.

De acordo com o Relatório de Competitividade Global para 2013-2014, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, apesar do crescimento econômico, a América Latina ainda apresenta uma estagnação geral do desempenho competitivo se tomarmos por base o Índice de Competitividade Global (Global Competitiveness Index – GCI). No ranking de 148 países analisados, o Brasil ocupa apenas a 56ª posição em 2013, tendo caído oito colocações em relação ao ano anterior.

Outro relevante estudo internacional destaca a importância da cultura no processo de inovação. Trata-se do Índice de Inovação Global (The Global Innovation Index 2013 – GII), que analisa 142 países e separa-os em líderes e aprendizes de inovação.

O GII 2013 indica que muitas estratégias de inovação têm sido focadas em tentar replicar modelos de sucesso adotados em outros lugares do planeta, como o Vale do Silício, na Califórnia (EUA). O estudo faz ainda um apontamento crítico: o fomento à inovação local requer estratégias que devem estar profundamente enraizadas em vantagens competitivas, história e cultura que traduzam uma determinada localidade.

Betânia Tanure, pesquisadora de cultura organizacional, aponta que a cultura é transmitida e apreendida mediante o processo de comunicação, sendo os mecanismos determinantes para a promoção dela em diversas organizações. Assim, discutir o estímulo à cultura de inovação no Brasil passa por reconhecer o papel estratégico das relações públicas como área especializada na gestão de relacionamentos para esses habitats geradores de serviços e produtos de alto valor agregado para a sociedade.

E para o melhor entendimento do assunto, seria importante uma reflexão sobre os desafios e os impactos da cultura da inovação em relação à cultura nacional e à forma brasileira de administrar, de gerir pessoas, inclusive.

O tema é mais complexo do que podemos abordar em apenas um artigo, porém é possível dizer que entre as características da cultura de inovação, segundo inúmeros estudiosos, destacam-se a comunicação clara e aberta, o encorajamento da autonomia, da expressão de opiniões e o compartilhamento de conhecimentos. Todos indicadores de que comunicação simétrica é a mais adequada para esses ambientes, ou seja, que o uso da comunicação deve ocorrer de forma a administrar conflitos e a buscar o equilíbrio entre as partes.

Um pouco mais adiante, podemos refletir que alguns dos valores da cultura de inovação ainda se chocam com os valores da cultura organizacional brasileira, calcada na centralização de poder e autoridade hierárquica. Porém, estão alinhados aos novos paradigmas, que se baseiam em simetria, colaboração e interatividade, principalmente em tempos de meios digitais.

Enfim, é hora de refletir sobre esse contraponto de modo a otimizar a farta e rica matéria-prima que temos em mãos. Empreendedores, gestores de parques e incubadoras e demais entes ligados ao movimento: as relações públicas e a área comunicacional podem auxiliá-los a promover uma gestão mais aberta, simétrica e participativa, capaz de criar estímulos, vínculos e engajar a todos na cultura na inovação.

Leila Gasparindo é sócia-fundadora da Trama Comunicação, jornalista (PUC-SP) com pós-graduação em Relações Públicas (ECA-USP) e pesquisadora e consultora em comunicação organizacional e cultura da inovação. Contato: leilag@tramaweb.com.br