A Comunicação Interna vive hoje um dos momentos mais desafiadores da sua história. A chegada de inúmeras ferramentas de inteligência artificial na rotina dos gestores de CI têm abalado certezas, tensionando o papel das agências e confundindo empresas que ainda não entenderam que cultura não se automatiza. 

Quem escreve o comunicado pode até ser um robô, mas quem vai olhar nos olhos do time na segunda-feira? Quem lê o clima da equipe? Quem percebe o silêncio, traduz o propósito, oferece escuta e presença? 

É nesse contexto que reuni abaixo 7 dores reais da Comunicação Interna hoje. Não para criar alarde, mas para provocar reflexão e, principalmente, ação.
 

1. Segmentação de Narrativas e Personalização

Enviar o mesmo comunicado para todas as áreas, cargos e perfis pode ser prático, mas não é estratégico. Isso sem contar com a infoxicação. 

Hoje, personalizar não significa criar um texto do zero para cada público. Significa entender qual é o contexto daquela audiência, o que ela valoriza e como ela consome informação. É a CI atuando como curadora e articuladora. 

Por que dói

Quando todos recebem o mesmo comunicado, cada público interpreta (ou ignora) de forma diferente e o engajamento cai. A IA trabalha com padrões, mas é preciso contextos. Se uma empresa está passando por um momento de restruturação e enxugamento de unidades, por exemplo, é preciso que haja a intervenção humana para fazer julgamentos sobre de que forma um determinado comunicado poderá ser recebido. 

Onde a IA te atrapalha:

  • Produção de mensagens genéricas que “servem para todos”; 
  • Ignorar sutilezas culturais ou momentos sensíveis da organização; 
  • Reforça o automatismo: mensagens que parecem marketing, quando deveriam ser conversa. 

Como a CI deve ajudar:

  • Gerando variações de uma mesma mensagem com tom adaptado; 
  • Sugerindo segmentações com base em dados de engajamento; 
  • Criando templates que ajudam a acelerar sem perder consistência. 
  • Preparando as lideranças para que as mensagens chave sejam melhor comunicadas. 

2. Liderança Comunicadora como Protagonista

Lider

Liderança Comunicadora não é um tema novo, mas ainda é o maior gargalo da Comunicação Interna em boa parte das empresas. Esperamos dos líderes que inspirem, engajem, informem e ouçam, mas, quantos foram preparados para isso? 

Cinco anos de pesquisas para avaliar a percepção sobre a comunicação interna e marca empregadora realizadas pelo Grupo Trama Reputale em seus clientes apontam que o líder imediato e a alta liderança são considerados os canais mais confiáveis por parte dos colaboradores. 

“Pesquisas realizadas pela Aberje há 9 anos também demonstram a importância da comunicação da liderança para a efetividade dos processos internos de comunicação. No entanto, muitos líderes ainda enxergam a comunicação como uma tarefa extra ou um favor à área de CI. Sem clareza sobre seu papel nesse processo, acabam apenas reencaminhando mensagens — e raramente promovem entendimento”, comenta Leila Gasparindo, CEO do Grupo Trama Reputale.

Leila Gasparindo, CEO do Grupo Trama Reputale.

Leila Gasparindo, CEO do Grupo Trama Reputale.

Por que dói

Estudos internos mostram que o líder imediato é a fonte mais confiável de informação. Se ele apenas reencaminha notícias, a CI perde credibilidade. 

Onde a IA te atrapalha:

  • Fornecer textos genéricos que, quando lidos, soam frios e sem vínculo; 
  • Automatizar comunicações que deveriam ser feitas presencialmente; 
  • Fazer o líder acreditar que o robô pode substituir sua presença real. 

Como a CI deve ajudar:

  • Capacitando e apoiando líderes como canais estratégicos de cultura; 
  • Criando resumos de falas e temas que facilitem as reuniões de equipe; 
  • Gerar FAQs diante de campanhas ou comunicados institucionais.  

3. Uso Estratégico de Linguagem Audiovisual

 

Vídeos são atraentes, dinâmicos e emocionais. Por isso, cresceram como formato na CI. Mas também carregam um risco: o de excluir parte da equipe.

A pergunta não é “vídeo engaja?”, mas sim: “quem realmente está assistindo?” Nem todo colaborador está na frente de um computador com acesso à Intranet. Nem todo time tem tempo ou equipamento para ver um vídeo no meio do turno. 

E mesmo quando o conteúdo chega, o formato precisa ser pensado para quem está na ponta: com linguagem direta, ritmo adequado e conteúdo objetivo. 

Por que dói

Exclusão digital de públicos operacionais ou externos. Via de regra, mais de 50% do público interno trabalha em áreas produtivas, onde o acesso aos canais digitais são precários. Para alcançá-los é preciso estabelecer formas e conteúdos que se adaptem às suas rotinas. Programas de influenciadores internos costumam contribuir e facilitar.   

Onde a IA te atrapalha:

  • Criar vídeos que não conversam com a realidade do público; 
  • Usar avatares que geram desconfiança em vez de conexão; 
  • Apostar só no formato e esquecer da mensagem. 

Como a CI deve ajudar: 

  • A comunicação não pode ser desenhada só para quem está na sede da empresa. Se a cultura é de todos, a mensagem precisa alcançar a todos; 
  • Formato e canal devem ser escolhidos de acordo com o público. Quem atua em comunicação interna em uma empresa onde há pessoas que trabalham em áreas remotas, de forma espalhada, precisa pensar em como acessar esse público. Ex.: face a face, o rádio ou mesmo grupos de whatsapp. 

4. Você tem canal demais e escuta de menos?

A multiplicação de canais digitais não resolveu o problema da comunicação. Mais aplicativos, mais mensagens, mais notificações… e menos tempo para absorver o que importa. 

Por que dói

Sobrecarga de informações e sensação de distanciamento. Na comunicação interna já existe a ideia de que menos é mais no que se refere à quantidade de informações. O comunicador deve atuar como um verdadeiro curador de informações para que não haja o que hoje se denomina a sensação de “infodemia” interna.  

“O humano deve sempre estar no centro dos planos de comunicação. Segmentar o público e as narrativas, valorizar as emoções para aumentar o vínculo entre a empresa e seus colaboradores e aplicar ferramentas de mensuração para calibrar quantidade e efetividade dos canais são algumas ações que podem ser adotadas para minimizar a sobrecarga de informações”, reforça Leila.

Onde a IA te atrapalha: 

  • Fazer com que a CI confunda leitura de dado com compreensão de gente; 
  • Substituir o diálogo real por dashboards que mostram “o que”, mas não explicam “por que”. 

Como a CI deve ajudar:

  • Reduzir o ruído e priorizar a escuta ativa e o diálogo real; 
  • Analisar dados qualitativos de enquetes, fóruns ou redes internas; 
  • Sugerir temas sensíveis a partir da repetição de palavras ou sentimentos em pesquisas. 

5. A IA entrou. Mas alguém ainda está prestando atenção no que importa?

O uso da Inteligência Artificial nas rotinas de Comunicação Interna já é uma realidade. E, sim, ela pode ser uma grande aliada. Mas quando usada sem propósito, sem filtro e sem estratégia, a IA pode gerar o oposto do que se espera: conteúdo sem alma, sem contexto e sem vínculo. 

Por que dói

Uso equivocado da IA em substituição à sensibilidade humana. Pressão por acelerar processos e fazer “mais por menos”. 

Onde a IA te atrapalha:

  • A IA é excelente para acelerar processos, testar variações de mensagens, organizar tarefas. Mas ela não sabe o que a sua equipe está sentindo e não conhece a história da sua empresa; 
  • Incentivar a terceirização do raciocínio: conteúdo que “parece bom”, mas não tem nada a ver com a empresa; 
  • Reforçar o imediatismo, prejudicando a reflexão sobre cultura e clima. 

Como a CI deve ajudar:

  • Integrando a IA ao processo como apoio operacional, mantendo o humano no centro da análise, da escolha e da relação; 
  • Aprender a usar a IA com responsabilidade e consciência, como uma aliada tática. 

6. Comunicação Interna como Estratégia de Negócio

Muitas áreas de Comunicação Interna ainda são acionadas apenas na última etapa dos processos: para “divulgar a decisão” ou “comunicar a mudança”. Mas quando a CI entra só no fim, a cultura já foi impactada: sem mediação, sem narrativa e sem participação. 

Por que dói

Comunicação Interna vista como operacional, não estratégica. É um erro achar que o público interno, por estar em contato diário com a empresa, não precisa ser priorizado em situações de rebranding ou mudança de estratégia. Muito pelo contrário, quem trabalha na empresa precisa ter uma atenção especial nesses casos para que a empresa tenha sucesso em suas estratégias de negócio. 

Onde a IA te atrapalha:

  • Tornar a comunicação uma “etapa automática”, sem análise do contexto; 
  • Reduzir a atuação da CI a tarefas de entrega; 
  • Substituir o senso de oportunidade pela pressa da automação. 

Como a CI deve ajudar:

  • Posicionar a CI como parceira desde o planejamento, influenciando a construção da mensagem, não apenas sua entrega; 
  • Ocupar seu espaço nos fóruns decisórios, nos projetos de cultura, nas transições críticas. 

7. Comunicação Humanizada e Foco nas Pessoas

Muitas vezes, o colaborador se sente mais um número. Mas o que ele quer, no fundo, é simples: ser visto, reconhecido e respeitado. Diagnósticos realizados após pesquisas de marca empregadora em clientes da Trama demonstraram que reconhecimento é um dos principais fatores de distanciamento entre a proposta de valor ao empregado (EVP) e a percepção de que a pessoa está em uma das melhores empresas para se trabalhar. 

Empresas que priorizam uma linguagem humanizada na CI colhem frutos claros: mais engajamento, mais confiança e menos ruído em momentos delicados. 

Por que dói

Linguagem fria, impessoal e pouco empática. 

Onde a IA te atrapalha:

  • Gerar mensagens “bonitas”, mas impessoais; 
  • Reforçar o uso de expressões genéricas que não conversam com a cultura da empresa; 
  • Tornar a comunicação “polida demais” e, por isso, emocionalmente nula. 

Como a CI deve ajudar:

  • Reconhecer vulnerabilidades e celebrar vitórias são práticas simples que transformam a percepção do colaborador sobre o lugar onde trabalha; 
  • Sugerir ajustes de tom mais inclusivo ou inspirador; 
  • Apoiar na criação de narrativas internas com storytelling mais empático. 

A máquina acelera. Mas é a relação que sustenta.

A Inteligência Artificial está aqui, e vai ficar. Mas quem vai segurar a barra, ajustar o tom, perceber o conflito, cuidar da cultura, são as pessoas.

A Comunicação Interna que entende isso não teme a IA. Ela a usa com inteligência, mas age com humanidade.  

O futuro da CI não será escrito só por algoritmos. Ele será construído por quem souber ouvir, sentir, traduzir e conectar. 

E você, vai deixar a máquina dominar ou vai cuidar do que realmente importa? Procure por um dos nossos especialistas para aprofundarmos esses desafios aí na sua empresa e, quem sabe, atuarmos juntas e juntos nessas ideias.