Esta semana, o tema da violência contra a mulher voltou a ocupar as redes sociais, a imprensa e a gerar movimentação das marcas. As hashtags #violênciacontramulher, #justiçapormariferrer e #nãoexisteestuproculposo são destaques desde o último dia 3, quando o site The Intercept Brasil divulgou um trecho do julgamento da influencer Mariana Ferrer, vítima de estupro em 2018, no qual ela é humilhada e o empresário acusado foi considerado inocente.

A jovem de Santa Catarina, então com 21 anos, foi drogada e violentada pelo empresário André de Camargo Aranha. Mesmo com provas, o juiz considerou o acusado inocente, acatando a argumentação do promotor responsável pelo caso de que não havia como o empresário saber, durante o ato sexual, que a jovem não estava em condições de consentir a relação, não existindo, portanto, intenção de estuprar. Uma espécie de “estupro culposo”, que não haveria intenção de crime.

A sentença gerou movimentação nacional não só pelo caso em sim, mas principalmente porque a luta pelo combate à violência contra a mulher é uma demanda social latente e o resultado do julgamento representa um retrocesso. O medo e a vergonha em denunciar crimes sexuais é muito comum e a sequência de desrespeitos e agressões verbais que aconteceram com Mariana durante o julgamento reforçam o receio.

 

O CASO NAS REDES SOCIAIS

 

Não demorou muito para que a repercussão chegasse até influenciadores digitais, veículos de comunicação e algumas instituições e marcas, que reconheceram o tema como uma demanda social e começaram a se posicionar. Celebridades e influencers, como Felipe Neto, Tata Wernek, Fernanda Gentil, entre outros, manifestarem solidariedade ao caso e chamando a atenção para a gravidade da situação, conseguindo o apoio de milhares de colegas e de seguidores que se manifestaram em consonância.

 

 

A hashtag #nãoexisteestuproculposo foi uma das mais utilizadas, chegando ao trending topics do Twitter e usada mais de 30 mil vezes no Instagram. O risco real de um retrocesso jurídico embasou muitas das publicações mais sutis, que foram corroboradas por uma série de elementos – as notas de repúdio e discordância emitidas por órgãos de respaldo, por exemplo, representam pontos de vista oficiais. Ou seja, elas permitem uma possibilidade de posicionamento justificado, que atinge seus públicos levando a informação de que não se trata somente de uma opinião, mas sim de uma crítica sólida e bem informada.

  

A BANDEIRA DAS MARCAS

 

Empresas e instituições conhecidas por suas iniciativas para o enfrentamento da violência contra a mulher e ao assédio sexual também se manifestaram. Foi o caso do Instituto Avon, Faculdade de Medicina FMRPUSP e O Boticário. Conteúdos de repúdio, divulgação de ações de apoio a mulheres vítimas de violências, além da abertura de canais de denúncia figuraram entre os posicionamentos mais comuns.

O engajamento dos materiais publicados reforça a importância de as marcas usarem seu alcance para trabalhar temas importantes para a sociedade. Institucionalmente, a defesa de causas não pode ser vista como uma adesão individual, fruto de uma preferência ou de uma identificação, mas sim como o comprometimento da empresa. E, principalmente, deve refletir uma preocupação real, espelhada em ações afirmativas da empresa ou instituição.

 

 

REPERCUSSÃO DO CASO NA MÍDIA

 

A maioria dos veículos de imprensa também publicou reportagens e artigos com posicionamento bastante claro. O reconhecimento das problemáticas do caso e do impacto negativo para as vítimas de violência deu o tom de várias reportagens, como esta do jornal Estado de Minas .

Ainda em relação à mídia, o caso da demissão do jornalista Rodrigo Constantino pelas emissoras Jovem Pan e TV Record, também teve uma grande repercussão, inclusive nas redes sociais. Ele fez uma crítica infeliz ao caso de Mariana Ferrer e disse que castigaria a filha se ela também sofresse um estupro bêbada e não denunciaria o agressor. O jornalista criou uma hashtag, dizendo que várias mulheres apoiavam, que teve um efeito contrário ao que imaginava. Muitos internautas passaram a criticá-lo usando a hashtag.

Em nota, a TV Record se posicionou em relação à demissão: “O jornalismo dos veículos do Grupo Record tem acompanhado com muita atenção o caso de Mariana Ferrer e o Grupo não poderia, neste momento, deixar qualquer dúvida de que justiça não se faz responsabilizando ou acusando aqueles que foram vítimas de um crime…. Apesar de ter garantias de liberdade editorial e de opinião, julgamos que o posicionamento adotado por Constantino não compactuou com o nosso princípio de não aceitar nenhum tipo de agressão, violência, abuso, discriminação por questões de gênero, raça, religião ou condição econômica.”