A opinião pública no Brasil confia duas vezes mais no setor privado do que no poder público. A conclusão é do estudo global Barômetro da Confiança 2014 que mede anualmente, desde 2001, o grau de confiança das pessoas e formadores de opinião nas instituições públicas, privadas, ONGs e nos veículos de comunicação.

O levantamento mundial coletou dados de 27 nações, sendo 33 mil entrevistas pela Internet e 6 mil entrevistas com formadores de opinião desses mesmos países – pessoas com curso superior, hábito de consumir notícias diversas vezes por semana e que acompanham temas sociais e políticos.

O estudo mostra que 55% dos brasileiros considera que a regulação do mercado pelo governo ainda é insuficiente. No Brasil as empresas detém 70% da confiança da opinião pública; a mídia vem em segundo, com 63%; em terceiro vêm as ONGs com 62%; e em quarto lugar, vêm os governos, com 34%.

Esses dados mostram que as pessoas identificam nas empresas um papel de contribuição para resolver os problemas da sociedade, junto com o governo e a própria sociedade. As empresas que tiverem o pioneirismo no Brasil de atuar como catalisadoras dos anseios de mudança da sociedade serão altamente beneficiadas no quesito credibilidade.

O cidadão no Brasil tem uma grande carência de informação a respeito de temas socialmente relevantes para suas vidas, ou seja, de interesse público, que normalmente deveriam ser provenientes de órgãos públicos, da chamada comunicação pública.

Segundo estudos de universidades italianas levantados pela pesquisadora da ECA-USP, Mariângela Furlan, a boa notícia é que essa comunicação pública pode ser realizada pelo poder público, mas também tem sido realizada por atores semipúblicos ou até mesmo pelo setor privado, que tem desenvolvido uma ação complementar das estruturas públicas.

O que caracteriza a comunicação pública, mesmo quando exercida pelo setor privado, é a sua finalidade: a mesma não pode ser orientada para obtenção de um benefício econômico imediato como à obtenção de lucro ou à venda de um produto. A comunicação pública tem por objeto os “negócios” de interesse geral, aqueles que os ingleses definem como public affairs, ou seja, aqueles que contemplam toda a comunidade, que produzem efeitos indiretos que influenciam a esfera pública construindo consenso em torno de ideias e atividades, e depois, sobre a esfera privada envolvida.

A importância do público interno em cenários de crise

Em contraposição do ranking global, segundo o estudo Baromêtro da Confiança no Brasil os porta-vozes para momentos de crise que os brasileiros consideram mais confiáveis são seus pares, ou seja, as “pessoas como eu”. Segundo o estudo, as “pessoas comuns” contam com 84% da credibilidade do público. Os acadêmicos possuem 70% e os presidentes de empresas, 60%. Além disso, a confiança no funcionário/colaborador da empresa cresceu 11% em relação ao ano de 2013. Esse indicador demonstra que em cenários de crise, aumenta a importância da administração interna, e da adoção de um sistema eficiente de comunicação interna para informar com agilidade e transparência o primeiro público da empresa, ou seja, os funcionários, colaboradores e familiares.

Assim, é possível concluir que cada vez mais uma comunicação estratégica baseada no relacionamento e no engajamento com públicos internos e externos torna-se imprescindível para as empresas brasileiras nos dias atuais.