Análise de especialistas aponta para temas sensíveis em tecnologia e política que devem ser cruciais ao longo desse ano
São Paulo, janeiro de 2018 – A empresas precisam se atentar para 10 tendências globais que poderão influenciar os mais diversos setores da economia. O Relatório Year-Ahead Predictions 2018 da A.T.Kearney, consultoria de gestão de negócios, com mais de 90 anos de trajetória global e uma das quatro maiores do mundo, aponta que questões como o Brexit, a rápida adoção de tecnologias de reconhecimento facial e as barreiras contra investimentos chineses poderão ser cruciais no ambiente de negócios em 2018.
“No mundo ultra volátil de hoje, é cada vez mais difícil especular sobre o que virá a seguir, e fazer previsões se tornou ainda mais complexo. Mas com algumas análises de cenário é possível prever algumas tendências em meio às tensões políticas globais, o crescimento do populismo e do nacionalismo, além das rápidas transformações tecnológicas”, afirma Esteban Bowles, head da A.T.Kearney Brasil.
Confira abaixo as 10 tendências destacadas pelo Global Business Policy Council, serviço da A.T.Kearney dedicado a decifrar mudanças geopolíticas, econômicas, sociais e tecnológicas e seus efeitos sobre o ambiente global de negócios.
- A supremacia quântica será alcançada: O futuro da computação é quântico. A Computação quântica utiliza as propriedades e comportamentos das partículas subatômicas para resolver problemas computacionais exponencialmente mais rápido que um computador tradicional. A expectativa é que o ano de 2018 marque testes desse tipo de tecnologia para que em poucos anos elas sejam uma realidade do cotidiano de pessoas e empresas.
- Negociações difíceis irão disparar o risco de um Brexit duro no início 2019: Veja no infográfico abaixo a linha do tempo traçada pela consultoria para explicar como as conturbações do Brexit ainda irão repercutir por alguns anos.
- Tecnologias de reconhecimento facial se tornarão onipresentes: A conscientização e o uso da tecnologia de reconhecimento facial vão crescer em 2018. A tecnologia vai se espalhar rapidamente, afetando muitos aspectos de nossas vidas diárias. Isto irá gerar novos questionamentos sobre privacidade e segurança, o que deve colocar governos e os defensores da liberdade civil em conflito sobre os usos do reconhecimento facial para fins de segurança nacional e vigilância. E esse debate pode se acirrar ainda mais no caso de um ataque terrorista —ou na ameaça de um—no qual esse tipo de tecnologia venha a se mostrar crucial para encontrar os suspeitos.
“Muitas empresas e consumidores adotarão esse tipo de tecnologia por conta de seu poder, e ao mesmo tempo, simplicidade de uso. Por isso, afirmamos que essa é uma tendência com muito potencial de capitalizar mercados ainda inexplorados”, afirma Mark Essle, sócio da A.T.Kearney no Brasil.
O executivo destaca ainda que um dos exemplos dessa tendência global é que os fabricantes de painéis OLED, um componente essencial dos dispositivos de reconhecimento facial, começam a sentir crescer a demanda por seus produtos, ao mesmo tempo em que enfrentam pressão para reduzir seu alto custo.
- A ameaça de estado islâmico irá se espalhar para o sudeste da Ásia, África e além: As substanciais perdas territoriais do estado islâmico no Iraque e na Síria em 2017 vão acelerar a ampliação das suas bases de operação em 2018. O estado islâmico continuará a capitalizar em cima da longa instabilidade política na Líbia país para capturar território de produtoras de petróleo, o que irá reforçar seus fluxos de receita. A Líbia também deve operar como a nova base do qual o Estado Islâmico implantará terroristas na Europa, alerta o Relatório.
- Políticas internas de Alemanha e França devem acabar com a curta “lua de mel” de Merkron: Os dois países contabilizam mais de 60% do PIB da UE e realizaram eleições nacionais em 2017. Então é fato que os resultados dessas eleições irão a moldar o futuro da UE. Recentemente eleito presidente da França, Emmanuel Macron injetou nova dinâmica na formulação de políticas em ambos os níveis, nacional e supranacional, aprovando reformas importantes como a trabalhista e deve estabelecer uma visão abrangente para uma UE mais integrada.
- Desastres naturais catastróficos vão colocar ainda mais pressão nos mercados de seguros globais: Em 2017, 10 tempestades alcançaram a intensidade de furacão, terremotos na América Central mataram milhares. O terremoto do México sozinho, custou mais de US$2 bilhões em danos segurados — e muito mais em danos que não estavam em coberturas de seguros. E esse tipo de situação deve continuar em 2018.
“Algumas das maiores empresas de seguros e resseguros do mundo sobreviveram às perdas ao longo dos últimos anos porque tinham reservas de capital suficientes, mas nem todas serão capazes de manter o ritmo em 2018”, explica Sergio Eminente, diretor da A.T.Kearney Brasil. Segundo Eminente, os preços para seguro comercial continuam sob pressão, com a maioria dos segmentos operando em níveis e taxas insustentáveis.
Como resultado, as taxas de resseguro vão subir em 2018. “Também devem haver disputas entre os segurados e as companhias de seguros sobre quais reivindicações relacionadas com desastres naturais são elegíveis para pagamentos seguros, o que pode gerar pressões e intervenções governamentais sobre as companhias”, explica o especialista.
- Novos regulamentos irão emergir quando o poder e autonomia dos “Gigantes da Internet” atingir seu ponto máximo: As grandes empresas de Internet do Vale do Silício devem atingir juntas uma capitalização de mercado maior do que a economia do Canadá — e com crescimento aparentemente implacável. O crescimento de alegações sobre improbidades na participação da Rússia nas eleições presidenciais dos EUA em plataformas como Facebook e Twitter iniciaram um debate global sobre a influência e o poder que as mídias sociais e outras empresas de Internet exercem-no mundo de hoje e vai muito além da polêmica sobre “fake news”.
“A questão da regulação das empresas de Internet deve se tornar central ao longo do ano. Já notamos que o alcance não regulamentado dessas plataformas de mídias sociais também tem permitido o crescimento da atuação de terroristas, como o Estado Islâmico, e a proliferação de discursos de ódio e pornografia infantil”, explica Essle.
- A crescente demanda por veículos elétricos irá estimular um aumento nas vendas globais: De acordo com a Agência Internacional de energia (AIE), o número de veículos eléctricos (EV) subiu para 2 milhões mundialmente em 2016. Cinco anos antes, esse número era zero. O IEA também destacou que o mundo precisará ter 600 milhões de carros elétricos em 2040 para atingir as metas de redução de aquecimento global estabelecidos no Tratado de Paris.
“Governos de todo o mundo estão prestando atenção nessas estimativas. Na China, maior mercado automotivo do mundo, o Ministério da Indústria e Tecnologia estabeleceu que 1 a cada 10 carros produzidos no país deve ser híbrido para uso elétrico até 2019. A Índia também já possui políticas semelhantes. Como resultado dessa movimentação, o mercado de veículos elétricos deve crescer rapidamente nos próximos anos”, destaca o diretor Sergio Eminente.
- O Investimento estrangeiro chinês vai acelerar, mas enfrentará a resistência crescente: Em 2018, a tensão entre investidores chineses e os governos de seus países-alvo virá à tona. Empresas chinesas irão continuar seus processos de expansão por aquisição para reforçar sua acuidade tecnológica e proporcionar oportunidades de crescimento. Mas governos ao redor do globo— particularmente aqueles em mercados desenvolvidos e com empresas com tecnologias mais atrativas — devem entrar em conflito direto com esses novos investidores chineses ao tentar proteger suas indústrias domésticas. Como consequência, o número de “bloqueios” de ofertas de investimento chineses no exterior deve crescer em 2018.
- Avanços em tratamentos contra o câncer irão acelerar a um ritmo sem precedentes: Avanços oncológicos pioneiros e novas aplicações clínicas surgirão em 2018, conforme múltiplas tecnologias e inovações médicas amadureçam. Muitas correntes divergentes de P&D poderão potencialmente interagir de formas inesperadas e inovadoras, estendendo a expectativa de vida de milhões de pacientes de câncer em todo o mundo. Além disso, pesquisadores devem conseguir bons progressos no diagnóstico e tratamento de metástases ao modificar geneticamente células brancas do sangue antes de colocá-los de volta em um paciente.