Pesquisas prevendo que as reservas de petróleo devem chegar à metade em algumas décadas e, na seqüência, rumar ao esgotamento, iniciaram na década de 90 uma espécie de corrida tecnológica em busca de energias alternativas. Empenhado, o Brasil busca alcançar países como Estados Unidos, Alemanha, Canadá e Japão, que têm entre suas prioridades em investimento tecnológico o estudo do hidrogênio, elemento não-poluente e abundante no planeta, apontado como o combustível do futuro.
Entre os destaques da pesquisa nacional na área desponta a Electrocell, empresa residente do Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec), instalado na Cidade Universitária da USP. A empresa foi fundada há três anos por um grupo de pesquisadores da USP que, com apoio e estruturas oferecidas pelo Cietec e pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), desenvolveram o protótipo da célula combustível. A célula combina átomos de hidrogênio e oxigênio e transforma energia química em elétrica sem passos intermediários, como ocorre no caso da queima de combustíveis, e sem poluir o meio ambiente, pois produz apenas vapor de água como resíduo.
O protótipo, desenvolvido pelo engenheiro eletrônico Gilberto Janólio e pelo engenheiro químico Gerhard Ett, viabiliza ainda o carro a hidrogênio e pode ser usado de maneira efetiva como fonte de energia em residências, condomínios, edifícios residenciais, comerciais e empresas, chamada como “célula estacionária”. A Electrocell produz células a combustível de 25kW a pronta entrega com material quase 100% nacional e trabalha no desenvolvimento de protótipos mais potentes, na ordem de dezenas de kW, sob encomenda.
Devido a um convênio entre o Ipen, a empresa e o Financiamento de Estudo e Projetos (Finep) do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), foi destinada uma verba de R$ 994 mil do Fundo Setorial CT-Petro para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de membranas para célula combustível. “A membrana é o coração da célula. Ela faz a oxidação do hidrogênio e a redução do oxigênio”, explica o sócio-diretor da Electrocell, Gerhard Ett. “Membranas melhores produzem mais energia e têm maior durabilidade”, completa.
A verba conseguida junto ao CT-Petro, além de ser utilizada para pesquisa, está sendo usada na elaboração dos planos de trabalho e marketing, infra-estrutura e pedido de patente. Os resultados finais do convênio serão apresentados no final de 2003. “Trabalhamos no aperfeiçoamento das membranas para alcançar o nível internacional e falta pouco para conseguirmos isto. A parceria com o Ipen nos dá acesso a laboratórios com um alto nível de equipamentos e pesquisadores”, declara Ett. Sua empresa já participa do Programa de Certificação ISO e tem como meta exportar células combustível com membranas próprias.
Em fevereiro deste ano, a Electrocell apresentou seu modelo de célula no Brazil Tech Day (BTD), evento realizado em Washington, nos Estados Unidos, a fim de promover a cooperação e um aumento de fluxo de bens e serviços entre instituições de pesquisa dos dois países. Dentre os 22 projetos brasileiros apresentados, o da célula combustível foi um dos que despertou maior atenção.
Carro a hidrogênio
Grandes empresas automobilísticas no mundo como Honda, Toyota, General Motors e Ford já possuem modelos piloto de carros movidos a hidrogênio. No início do ano, o presidente norte-americano George W. Bush afirmou em seu discurso ao Congresso dos Estados Unidos que o “hidrogênio é o futuro” e que pretende colocar nas ruas carros movidos por este elemento em pouco mais de uma década. Bush destinará US$ 1,5 bilhão do orçamento para pesquisas desta energia alternativa.
No Brasil, os sócios da Electrocell Ett e Janólio despertam interesse por seu trabalho com células combustível. A empresa já foi contatada por grandes companhias como a Volkswagen, que estuda o uso do hidrogênio em veículos para transporte coletivo.
Além da independência do petróleo, uma grande vantagem do uso do hidrogênio como combustível automotivo é produzir apenas vapor d’água como resíduo. A frota mundial de carros é responsável por 90% da poluição atmosférica atualmente, colaborando para o aumento de doenças respiratórias e do superaquecimento global.
Sobre o Cietec
Um dos mais importantes centros incubadores do país, o Cietec foi criado em abril de 98 por um convênio entre a Secretaria da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, o Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo), a USP (Universidade de São Paulo), o Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) e o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). O centro incubador é uma nova forma de incentivo ao desenvolvimento de tecnologia, muito popular no exterior e que está a cada dia se fortalecendo mais no Brasil. Seu objetivo é incubar empreendimentos de base tecnológica de forma a ampliar o índice de sobrevivência e a competitividade dessas empresas, objetivando o crescimento da economia brasileira, o aumento da geração de empregos qualificados e de melhores resultados na balança comercial brasileira. Site: www.cietec.org.br
Glossário:
Incubadoras:instituições que se destinam a apoiar empreendedores, criando condições para o crescimento de suas empresas. As incubadoras oferecem serviços especializados, orientação, espaço físico e infra-estrutura técnica, administrativa e operacional.
Incubadas: empresas constituídas (ou empreendedores) que dominam uma tecnologia e têm interesse em desenvolver seu produto ou serviço na Incubadora. É necessário que disponham de capital mínimo assegurado para o início da operação e tenham previsão de obter faturamento em até 12 meses após a instalação.
Descrição:Projeto da célula combustível já recebeu R$ 1 milhão para seu aperfeiçoamento. Tamanho: 526 KB Clique aqui para ver a imagem ampliada |
Descrição: Esquema da célula combustível. Tamanho: 213 KB Clique aqui para ver a imagem ampliada |