Já sabemos que o personagem é o ponto de entrada em todo universo novo, uma vez que veremos tudo (ou seja, as mensagens-chave) através de suas lentes. Correto? Ele é o elemento mais importante da narrativa.

Mas, ainda cumpre nos debruçarmos um pouquinho sobre a construção da “saga” ou “enredo” que tangencia todo e qualquer personagem. E aqui gostaria de falar a respeito de Campbell. Não aquela marca de sopas, eternizada na arte pop de Andy Warhol. Mas sim Joseph Campbell, um estudioso norte-americano do século passado, que se dedicou ao estudo dos mitos e da religião comparada, basicamente.

Campbell foi autor das obras “O Herói de Mil Faces” e “O Voo do Pássaro Selvagem – Ensaios sobre a universalidade dos mitos”, entre outros títulos. Na verdade, sua grande contribuição para a ciência que estuda as narrativas ligadas à mitologia foi criar o modelo conceitual que conhecemos hoje sobre a “Jornada do Herói”, conforme podemos ver a seguir.

Você já conhecia essa expressão? Nada mais é do que uma convenção, um paradigma literário identificado em diversas narrativas e que, diga-se de passagem, tem funcionado muito bem na ficção fantástica, pois auxilia muitos escritores na construção de uma trama emocionalmente e verossímil.

Joseph Campbell nos apresenta 12 passos pelos quais a Jornada do Herói se sucede, além de se embasar na psicanálise para justificar a verossimilhança desse modelo. Ou seja, em que ele se assemelharia à nossa vida, a ponto de nos prender pela empatia (rapport).

Se observarmos desde as mais antigas odisseias, passando por clássicos do cinema hollywoodiano até chegarmos a comerciais televisivos contemporâneos, como este da montadora alemã Audi, veremos que os passos da saga vivenciada pelo herói se repetem, com sutis modificações ou ênfases maiores em alguma ou outra etapa, em todas as construções.

A grande sacada de Campbell foi construir uma espécie de fórmula mágica (para alguns, uma receita de bolo) sobre como tecer narrativas com heróis que personifiquem os valores e crenças de uma determinada marca, empresa ou instituição, mitificando-os.

Experimente, por exemplo, trocar a marca Audi no comercial que citamos acima, pela fabricante de calçados e roupas esportivas Nike, ou pela marca de bebidas energéticas Red Bull. O resultado será o mesmo. Funcionará da mesma forma.

O mais bacana é ver outras ações como a feita pela Kipling (marca conceituada de bolsa e mochilas), nas vitrines de algumas de suas lojas para o dia dos namorados, que utilizam o conceito de Campbell, tal qual a propaganda de TV o faz ou os longa-metragens do cinema. Provando que a teoria é perfeitamente adaptável a qualquer canal, desde que se tenha um pouco de criatividade e vontade de inovar.

Reparem na história contada na vitrine de uma das lojas Kipling a respeito da saga do namorado (herói) para tentar encontrar o presente ideal para sua companheira. Simples, objetiva, mas altamente impactante. Quem não se identifica com tal narrativa, baseada na dificuldade que temos de encontrar “aquele presente ideal” em meio a turbilhão de opções e gostos?

Querem outro exemplo clássico e lúdico sobre a saga de um herói?

Que tal, então, esse vídeo feito por uma ONG inglesa para conscientizar sobre a importância da coleta seletiva para fins de reciclagem?

Enfim, são exemplos que ficam para nossa reflexão, com base no conceito trazido por Campbell. Se você ficou interessado em entender melhor a teoria do autor sobre mitos e a jornada do herói, então, dê uma olhada nesse vídeo aqui!

Depois, que tal bater um papo conosco?